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O DOM DA AMIZADE





O Dom da Amizade

  

      Talvez C. S. Lewis, mais que qualquer outro escritor do seu tempo, trouxe à consciência que a Amizade é mais que simples companheirismo ou mera ocupação para às horas vagas, sendo um dos dos Amores.

      O Amor, com um ser expressivo, têm várias formas, formatos e expressões. Eros, Phileo, Ágape, são formas e essências pelas quais o Amor se mostra. Em todas as suas formas, o Amor, deriva do Ágape que é, em si, o próprio Amor, conforme disse São João em sua Primeira Epístola.

      Na Amizade, não menos que nos outros amores, o amor se expressa fluindo de uma Fonte Eterna, que é a Amizade da Trindade.

      Em seu maravilhoso ensaio sobre a Amizade em Os Quatro Amores, C. S. Lewis observa, com seu peculiar estilo intelectual, como a amizade é um dos amores que faz parte do "corpo" do Amor, e também a desconsideração que sofre como tal:

 

Quando a Afeição ou o Eros é o lema da vida de uma pessoa, tem-se uma audiência cativa. A importância e a beleza de ambos têm sido enfatizadas, vez após vez, até o ponto do exagero. [...] Mas poucas pessoas modernas pensam que Amizade é um amor de valor comparável ou mesmo que seja um amor. Não consigo lembrar se algum poema, desde In Memoriam, ou algum romance [que a] tenha celebrado. Tristão e Isolda, Marco Aurélio e Cleópatra, Romeu e Julieta, todos esses têm inúmeros paralelos na literatura moderna; Davi e Jônatas, Pílades e Orestes, Rolando e Oliveros, Amis e Amile não têm. Para os antigos, a Amizade parecia ser o mais feliz e o mais completamente humano de todos os amores, a coroa da vida e a escola da virtude. Em comparação, o mundo moderno a ignora.

 

      A despeito da desconsideração moderna pela Amizade como Amor, ela continua fazendo parte do seu "corpo".

      "Para os antigos, a amizade parecia ser o mais feliz e o mais completamente humano de todos os amores, a coroa da vida e a escola da virtude". Nossa consideração pela Amizade deve ser, então, a mesma dos antigos. Parece que quanto mais antiga a consideração pela Amizade, mais nobre ela se torna. Se tomarmos como exemplo Davi e Jônatas, logo chegaremos em Abraão, que foi chamado "amigo de Deus".

      A Amizade de Abraão é o ponto mais alto da Amizade, a Fonte de onde ela flui: Deus Pai, que é "Todo-Poderoso, Criador dos céus e da terra", conforme reza o Credo; e que habita no lugar majestoso e santo, conforme o Profeta Isaías; mas que, condescendentemente feliz, está presente "com o aflito e humilde de espírito", assegura novamente Isaías, bem como com todos que anseiam por Sua Santíssima Amizade.

      A Amizade de Deus é possível somente por Cristo; Cristo provou sua Amizade pelos seus. "Não existe maior amor do que este", disse Cristo, " [...] Dar a própria vida por seus amigos". E Ele a deu.

      Assim, na Amizade verdadeira, cada amigo está disposto a dar sua vida pelo outro, bem como sua companhia, sua alegria e suas lágrimas. Um poema de Vanauken expressa essa companhia em todo tempo.

 

Juntos, em nossos risos e lágrimas,

Levados pelo vento para o centro de onde todos os caminhos cruzam.

 

      Outrora, eu pensava, a amizade era o relacionamento mais fácil de chegar ao fim. Percebi, porém, que a Amizade, como o Ágape, dura para sempre; sendo difícil chegar ao fim, desde que tenha verdadeiramente começado. Então, conclui em O Sofrimento Glorioso, "uma vez amigo, sempre amigo".

      Em The Descent of the Dove [A descida da pomba], o poeta Charles Williams agradece de forma muito feliz a um aparente amigo, "D. H. S. N.", que discutiu com ele a natureza do Amor; em gratidão, ele lhe dedica o livro e segue com um pequeno poema.

 

A dedicatória destas páginas [...] destina-se [...] de modo especialíssimo a D. H. S. N., que com nobreza e felicidade debateu comigo sobre a natureza do Amor:

 

Que fazeis vós? Por que lutais? De nós

Vos lembrais, ou nesse estado divino Há só olvido? Não contam para vós

Os efeitos do Grego e do Florentino?

- Lembramos muito bem. Não é convosco

Que bem guardado está nosso tesouro?

 

      Qual é a Natureza do Amor? Diz São Tiago: "Toda dádiva que é boa vem do alto, do Pai das luzes". O Amor, então, tem sua natureza em Deus, Ele mesmo é Amor, e a Natureza da Amizade é a Trindade.

      E esse tipo de Amor, a Amizade é, para mim, o mais elevado dos Amores. O próprio Ágape, o amor Divino, parece ser Amizade, já que é o Amor que flui na Santíssima Trindade. Como C. S. Lewis observou: "Somente esse, de todos os amores [parece nos elevar] ao nível dos deuses ou dos anjos".


Texto de: Igor Gaspar

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Igor Gaspar (@igorgaspaar) é bacharelando em Psicologia pela Faculdade Maurício de Nassau e autor do livro "O Sofrimento Glorioso". Reside na cidade de Caruaru/PE.

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