A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA LUTERO
Rev. Bruno Campos de Alcantara Santana
Como cristãos, estamos às voltas com
excelentes contribuições do reformador Martinho Lutero (1483 - 1546) que
valorizou a música tanto em sua proposta educacional quanto na prática
litúrgica. Ele insistiu para que os príncipes, reis e senhores luteranos
investissem na música tanto para o povo quanto na igreja. Podemos encontrar
diversas evidências documentais dessa preocupação como a expressa em sua carta
a João, O Constante, em 20 de julho quando pede:
Finalmente,
meu mais gracioso Senhor, eu solicito novamente que Sua Graça Eleitoral não vá
permitir que os kantorei deixem de existir, especialmente depois
daqueles que, no presente são seus membros, foram treinados para tal trabalho;
além disso, a arte é digna de ser suportada e mantida por Príncipes e Senhores,
muito mais que outros esforços ou empreendimentos para os quais não há de perto
tanta necessidade... Os bens e possessões dos mosteiros poderiam bem ser
utilizados para tomar cuidado deste povo. Deus obteria satisfação de uma tal
transferência[2].
Podemos verificar o cuidado tanto com a
preparação quanto a manutenção da arte, a música em especial, nas indicações de
Lutero aos governadores de seu povo. Ele conclama os governadores de seu povo a
investirem prioritariamente em arte. Outra evidência encontra-se em “Contra os
Profetas Celestiais na questão de Imagens e Sacramentos” (1525) onde comenta
sobre o canto e sobre uma liturgia alemã:
Gostaria hoje de ter uma Missa Alemã. Também estou ocupado com ela. Mas
eu gostaria muito de ter um verdadeiro caráter alemão. Pois para traduzir o
texto latino e manter o tom ou notas latinas tem a minha sanção, embora não soe
polido ou bem feito. Tanto o texto e as notas, acento, melodia, como a maneira
de execução deve originar-se da verdadeira língua materna e suas inflexões, de
outra maneira tudo torna-se uma imitação, à maneira de macacos[3].
Lutero desejava que o padrão de música para a igreja de seu país fosse
genuíno e inteligível, por isso deveria ser cantada na língua materna dos
fiéis. Segundo Schalk[4],
o posicionamento de Lutero quanto aos paradigmas do louvor pode ser explicado
através de cinco reflexões. Primeiro o fato da música ser criação e dádiva de
Deus. Segundo, para Lutero a música possuía caráter proclamador e de louvor. A
função principal da música era o louvor ao criador, fonte de todas as bênçãos e
agradecimento à redenção do mundo conquistada em Cristo. O terceiro paradigma é
o da música como canto litúrgico. Tinha como preocupação a continuação da
liturgia cantada, a música como veículo para envolver o crente no entoar da
liturgia. O quarto paradigma é o da música como a canção do sacerdócio geral de
todos os crentes. Ponto culminante de seu argumento. Se todos são sacerdotes
quanto maior a participação da comunidade de crentes mais esse caráter
sacerdotal estaria em voga. O quinto paradigma é o da música como sinal de
continuidade de uma igreja una. Para Lutero a música auxiliava a demonstrar o
caráter unificado da igreja.
A prática litúrgica de
Lutero tinha posição de destaque, afirma que "Depois (ao lado) da
teologia, à música o lugar mais próximo e a mais alta honra". Para ele a
música e canto, quando utilizados de forma correta levava os homens a adorar a
Deus já que "As notas musicais vivificam o texto". Precisaria ser um
"sermão em sons" a certeza de Lutero era tamanha que afirmou:
"Deus mesmo fez com que o evangelho fosse anunciado com música". Por
isso para ele o cântico congregacional só poderia alcançar seu alvo se a Palavra
de Deus fosse anunciada. O cântico popular era conceituado por Lutero como o um
cântico que explicasse ao povo o evangelho e o auxiliasse a interiorizá-lo[5].
O caráter memorável da música é bem
explorado por Lutero tanto no ensino do evangelho para sociedade, quanto na
prática litúrgica da igreja de seu país. Para isso não media esforços para que
essa música, executada com maestria, fizesse parte do cotidiano da sociedade alemã. A característica essencial dessa
música, no entanto, era a devoção às Sagradas Escrituras e a mensagem
transformadora do Evangelho de Cristo. Precisamos averiguar a utilização das
músicas em nossas igrejas. Algumas questões são importantes para identificarmos
se o legado de Lutero tem a mesma relevância na igreja de nossos dias. Será que
temos valorizado canções que exponham a Palavra? Será que o caráter memorável
das melodias é utilizado para inculcar princípios bíblicos na igreja? E a
qualidade, será que nossos pastores têm investido seus recursos na capacitação
técnica para aprimorar os músicos e cantores da igreja?
[1] Pintura: Martinho Lutero em família, de G. A. Spangenberg (1886).
[2]
BLUM, Raul. Os Paradigmas de Lutero para a Música Sacra. Igreja Luterana - nº 1
- 2003 Artigo. Disponível em:
<http://www.seminarioconcordia.com.br/seminario/documentos/il/120/IL20031.pdf>.
Acesso em 19/10/16.
[3]
BLUM, Raul. Os Paradigmas de Lutero para a Música Sacra. Igreja Luterana - nº 1
- 2003 Artigo. Disponível em:
<http://www.seminarioconcordia.com.br/seminario/documentos/il/120/IL20031.pdf>.
Acesso em 19/10/16.
[4]
SCHALK, Carl F. Lutero e a Música – Paradigmas de Louvor. São Leopoldo: Editora
Sinodal, 2ª edição, 2006. Disponível em:
<http://www.est.edu.br/downloads/pdfs/bibliografias/mestrado_profissional/Schalk_Lutero_musica.pdf>.
Acesso em: 19/10/16.
[5] MÓDOLO,
Parcival. Música: Explicatio Textus, Prædicatio Sonora. FIDES REFORMATA 1/1
(1996). Disponível em:
<http://cpaj.mackenzie.br/fidesreformata/visualizar.php?id=6>. Acesso em:
05/11/16.
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