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PORQUE OS JOVENS ESTÃO ABANDONANDO NÃO SÓ A IGREJA, MAS TAMBÉM A FÉ





PORQUE OS JOVENS ESTÃO ABANDONANDO NÃO SÓ A IGREJA, MAS TAMBÉM A FÉ


Por Levi Ceccato


    Tive o privilégio de nascer e crescer em um lar cristão. Aos 16 anos, estudava, jogava bola, já trabalhava secularmente e era engajado na igreja local, indo todos os dias para a igreja, com exceção às segundas à noite e tocava bateria em uma banda cristã chamada Shekinah. Participava de todas reuniões, inclusive de jovens e da EBD.

    Certa vez o pastor na porta da igreja, antes do início da reunião me chamou atenção por estar usando uma pequena corrente de ouro que havia ganhado da minha querida avó, disse por eu ser da equipe de louvor deveria dar exemplo e não “ostentar” ouro. Percebi naquele dia um ferrenho legalismo naquela comunidade. Foi o início das minhas frustrações com a igreja. Houveram mais cobranças legalistas no passar dos meses.

    Em meio a tantos dilemas e dúvidas, de um jovem na minha idade, aliado a crise de fé que se instalara, fui convidado por amigos do trabalho a fazer um show de Pagode como freelancer - eles sabiam que eu tocava na igreja e me convidaram. Aquele legalismo da “corrente” foi um estopim para a “bomba” de crises alojadas em meu coração.

    No primeiro show percebi um certo incômodo, senti que não deveria estar ali - bom eu deveria estranhar se não sentisse isso. Continuei na igreja e fazendo os shows. Tocar no secular, creio que não é um problema, mas, enfim, com os shows vieram as bebidas, as meninas e as drogas. Meu pai me chamou a atenção: — Filho você não pode ficar com um pé em cada canoa. Assim, eu escolhi a canoa da depravação.

    Desviei meus desejos e prazeres por alguns insanos anos, mente e coração estavam depravados - Satanás é o maior estelionatário que existe, ele pega os prazeres criados por Deus, pois não consegue criar nenhum e, usa para seus planos maléficos¹. E foi assim, até serem novamente direcionados por Deus em minha vida, meus olhos foram abertos, eu consegui enxergar de novo o Alvo e, minhas afeições por Cristo foram restauradas. Um ajuste fino ocorreu, a “frequência e sintonia” certas foram ajustadas. Foi como um trem retornar aos trilhos após metros vagando fora deles, no frio e na escuridão.

    Veja, o meu “estopim” foi o do legalismo. De outros jovens podem ser outros estopins, como uma cobrança exagerada e extrema da liderança por santidade, acusá-los de pecados não cometidos, a falta de oportunidade em atividades nas igrejas locais na área de suas vocações e não valorização de seus trabalhos na comunidade, as "panelinhas", as fofocas, as decepções com irmãos nos quais se espelhavam, mas foram tropeços, a relativização do pecado e da ética moral - se um irmão pecou, porque também não posso? - a falta de compromisso dos pastores, líderes e discipuladores durante a caminhada cristã com eles e etc. 

    Ah! Não isento os jovens também, muitas igrejas são saudáveis em liderança e atividades e simplesmente eles rejeitam e preferem a vida boêmia, em sua maioria dizem: - Terei muito tempo para a fé durante a vida, depois quando mais velho eu for, mas agora quero curtir a vida, afinal o que importa é o momento - confesso eu já pensei assim!

    Como cristão somos facilmente levados ao exagero e extremismo. Precisamos como diria John Stott de um Cristianismo Equilibrado, pois uma das maiores fraquezas que os cristãos manifestam é a tendência para o extremismo ou desequilíbrio.

    Dessa forma, mais afastamos, do que atraímos pessoas para Cristo. Os mais velhos, pela experiência acabam criando resiliência com os sofrimentos da vida e, por essas castas criadas acabam não sentindo, já os mais jovens se decepcionam e pulam para a outra canoa - onde não há legalismo e, sim liberalismo. No final, o que temos é um afastamento total da Igreja por eles e até mesmo da Fé Cristã - uns continuam acreditando em Deus, mas não querem sabem de igreja local, outros se perdem de vez e será difícil uma recuperação para os que partiram para um profundo atéismo, por exemplo.

    Se o extremo afasta, a falta de uma ortodoxia - reto ensino bíblico e da verdadeira espiritualidade - é substituída nos sábados à noite, por entretenimento, baladas gospel, jogos de luzes e a coxinha do final. Pastores são cobrados pelos pais, para que tenham atividades noturnas aos sábados na igreja, para segurarem seus filhos - e os pais se esquecem que essa responsabilidade de primeiro discipulado na vida dos filhos é deles pais e não da igreja. Assim, como diria Lewis, não estamos criando homens e mulheres “de peito”. Quando vem a primeira tentação, caem na lama e se lambuzam como porquinhos que acabaram de tomar banho e são soltos.

    Como disse o Mestre Jesus: Estamos coando mosquito e, deixando passar camelos! Oramos em voz alta nas praças e não batemos no peito, clamando pelo nossos pecados! Não temos mais criado homens de peito! 

    As verdadeiras virtudes e a espiritualidade para o jovem cristão não virão pelo legalismo, nem pelo liberalismo, mas por um cristianismo equilibrado - com as afeições e prazeres correntemente direcionados. Para isso, devemos ser e fazer discípulos, ou seja, a “Imitatio Christ”. 

    Virtudes são adquiridas pela imitação e prática. Somos aquilo que amamos e, não aquilo que pensamos, como disse James. K. A. Smith². Se na lista de virtudes o amor está lá, é imitando e praticando Aquele que é o Amor, para termos amor e sermos imitados em amor, lembremos, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, destes três, o maior deles é o amor (1 Cor. 13.13). É o amor o maior deles e, não a doutrina legalista. Amor e justiça andam juntos, pois ambos pertencem a um só Deus, que é Amor e Justo.

    Que não sejamos líderes, pastores, discipuladores ditadores e legalistas que afastam os jovens, e nem aqueles liberais que os levarão a tendência de não obedecerem as Leis de Deus - ambas atitudes podem levá-los a se perderem na caminhada Cristã, se afastarem da igreja e até mesmo da fé, mas, oro piedosamente para que tenhamos um cristianismo equilibrado, pois fé e razão não se contrapõem mas colaboram entre si, doutrina e devoção são duas amigas e são benção na vida do jovem se ensinadas com o direcionamento correto, ou seja, Coram Deo - Diante de Deus, fazendo de nossa Teologia serva de Deus e de nossas vidas dignas eticamente de imitação pelos jovens. 

    Afinal, na fé cristã não há espaço para o "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". Precisamos ser dignos de imitação, uma palavra encarnada, pois, o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de Graça e de Verdade e vimos a Tua glória - Jo. 1.14. 




Referências:
¹ Lewis. C. S. Cartas de um diabo a seu aprendiz. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
² Smith. James K. A. Você é aquilo que ama. São Paulo: Vida Nova, 2017. 





Levi Ceccato, esposo, pai, cartorário, pesquisador e historiador. Membro da Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Claro - SP. História pela UNESA. Bacharelando Teologia no Seminário Presbiteriano Reformado - ESUTEL. Host do PodCast - Coram Deo. Amante da boa literatura e da Teologia serva de Deus.

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