O USO DOS SALMOS NA HISTÓRIA DA IGREJA
Rev. Bruno Campos de Alcantara Santana
“Todas as maravilhas
da civilização grega, tomadas no seu conjunto total, são menos admiráveis do
que este simples livro dos Salmos”.
W. E. Gladstone.[1]
A
importância do livro de Salmos é inegável no fazer litúrgico de toda história
do Judaísmo, bem como da Igreja Cristã. Sua coleção e compilação “foram
adaptados para propósitos litúrgicos – em particular, para cantar nos ritos
sacrificiais realizados no templo”[2]. O
decorrer da história demonstra a importância do uso dos salmos como
constituinte da celebração no culto público e no cotidiano dos crentes de todos
dos tempos.
No Culto judaico
“cada dia da semana tinha seu salmo apropriado e o Hallel (salmos 113-118) era
cantado nas Luas Novas e nas Festas. Além da Páscoa, ele seria cantado no
primeiro dia do Pentecostes, nos oito dias da Festa dos Tabernáculos e nos do
Hannukah”. A tradição vai da casa para o templo por isso os salmos eram tanto a
“música da igreja” quanto “música de casa” para os judeus.[3] É
inegável a força dos salmos na cultura judaica, ela pode ser evidenciada no
ministério de Cristo. Faziam parte da natureza mental de Cristo, ao ponto de,
em suas últimas palavras citar textos desse livro (22:1; 31:5; Mt 27:46; Lc
23:46). Ele mesmo afirma que muitas coisas a seu respeito estavam escritas nos
salmos (Lc 24:44).[4]
Na Igreja
primitiva o uso pode ser evidenciado pelo que escreveu Tertuliano (morto em 215
d. C.) em Apologeticum XXXIX: “Depois de lavar as mãos e acender as lâmpadas,
cada um é incentivado a vir para o meio e cantar a Deus, seja das sagradas
escrituras ou de sua própria invenção”. A afirmação demonstra tanto o uso de
canções de autoria dos próprios crentes como o uso dos salmos.[5] Já
a partir do século IV com a oficialização da religião pelo Império Romano, a
liturgia passa também por um processo de institucionalização afastando a música
de sua origem devocional nas refeições comunitárias.
Já na
Reforma, a prática musical de Calvino destaca-se pela limpeza que fez em sua
igreja, foi enfatizado o uso de salmos versificados, já seu contemporâneo e
reformador suíço Zuínglio não permitiu nenhum tipo de música no culto.[6] Para
a reforma da Suíça era imprescindível a distinção completa da tradição da Igreja
Católica Apostólica Romana, o que explica essa aversão às práticas dela. Calvino
acreditava na força do cantar Salmos, por isso instituiu que fossem cantados
metricamente, em uníssono e à capela. Sua intenção era com o caráter
comunitário de sua liturgia. Com auxílio profissional ele publicou, em 1539, o
Saltério Genebrino, com 150 salmos metrificados. Esse saltério contou com
canções populares, criando distinção entre música sacra e profana. O Saltério
Genebrino tornou-se, rapidamente, muito popular e influenciou consideravelmente
os saltérios posteriores na Inglaterra, Escócia e América.[7]
O uso dos
Salmos na história do louvor a Deus pelo seu povo é vivo e cheio de
significado. Desde as sinagogas e do uso nos lares judeus, até nas igrejas da
Reforma, em especial na Igreja de Calvino. Louvar utilizando os salmos apresenta
de um lado, devoção à palavra de Deus norteando nosso culto, de outro, questões
variadas e profundas que motivaram os autores desses salmos. Ao cantá-los temos
a convicção de que nosso coração está representado diante de uma visão revelada
dos atributos de Deus. Que grande lição a história da igreja nos traz. Cantar a
palavra de Deus, com temas variados, que partam de corações contritos diante de
uma visão revelada do ser de Deus. Quanto dessa herança é vivida hoje em nossas
igrejas? Será que damos o devido valor a cantar a palavra de Deus em nossos
cânticos, ou estamos demasiadamente apaixonados pela “nossa forma de ver” as
Escrituras? Que o Senhor nos conduza a uma prática litúrgica que realmente o
adore por quem Ele revelou ser.
[1] Manual
Bíblico – Um comentário abreviado da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa
Edições Vida Nova, 1970. Pag.227
[2] CARDOSO,
Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo:
Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag.
26-51.
[3] CARDOSO,
Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo:
Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag.
26-51.
[4] Manual
Bíblico – Um comentário abreviado da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa
Edições Vida Nova, 1970. Pag.227
[5] CARDOSO,
Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo:
Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag.
26-51.
[6]
BLUM, Raul. Os Paradigmas de Lutero para a Música Sacra. Igreja Luterana - nº 1
- 2003 Artigo. Disponível em:
<http://www.seminarioconcordia.com.br/seminario/documentos/il/120/IL20031.pdf>.
Acesso em 19/10/16.
[7] MARASCHIN,
Jaci. "O canto e a expressão da vida: música popular e culto
evangélico". Cadernos de Pós-Graduação, Ciências da Religião, São Bernardo
do Campo, IMS, a.2. fev. de 1983.
Rev.. Bruno Campos de Alcantara Santana é Bacharel em teologia: Seminário MTC - Latino Americano - MG (WEC Internacional); Seminário Presbiteriano JMC – SP; e Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP. Licenciado em Educação Física pela UEFS - BA. Mestrando em teologia (M.Div.), com área de concentração em Estudos Histórico-Teológicos, no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
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