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A HERANÇA DOS EVANGELISTAS NA MÚSICA EVANGÉLICA


 

A HERANÇA DOS EVANGELISTAS NA MÚSICA EVANGÉLICA


                                                Rev. Bruno Campos de Alcantara Santana

 


            Estamos diante de uma realidade muito visível na cultura musical de nossas igrejas: músicas centradas nas necessidades dos homens. Sejam necessidades existenciais, sejam necessidades estéticas musicais, parece que o homem está no centro das preocupações, na escolha e execução das músicas na igreja. Sei que essa pergunta pode ter passado por sua mente, e acredito que ela seja extremamente relevante para nosso culto: Em que ponto de nossa história, agradar a Deus deixou de ser o centro da nossa música para o culto?

            O professor e Maestro Parcival Módolo[1] contribui de forma contundente para nossa resposta. Ele demonstra como, a partir do século dezenove houve uma mudança brusca no foco da música sacra, em seu texto “Música Tripartida: Herança do Século Dezenove”. A partir dessa época da história da igreja, a música (Instrumentos e partituras) passa ser produzida em série e passa frequentar as grandes sala de espetáculos e de concertos musicais, favorecendo o tecnicismo e o virtuosismo instrumental. A arte passa a ser destinada a um público selecionado, uma arte “superior” exclusivista, supérflua e dispensável.

            Módulo pontua que o compositor do século dezenove não trabalhava mais a serviço de um aristocrata ou o Estado ou a Igreja, mas para um ouvinte desconhecido. Ele passa a ser considerado uma espécie de "ente superior"; um "profeta". Refletindo sobre essa nova condição o professor e filósofo Rookmaaker afirma que a partir de então se tornou a arte pela arte, um tipo de irreligião em que a espiritualidade não possui um papel claramente definido[2]. Dessa forma, declara o Maestro Módulo, a música passa a ter três classificações: a Música Popular, a Música "Erudita" e a Música Sacra com trânsito quase inegociável entre elas, no que diz respeito ao local e situação de execução.

            Vieram, então, as campanhas evangelísticas que se tornaram uma espécie de modelo do evangelismo de massa da época. Através de evangelistas como Moody, Sankey, Torrey e Finney nasceu o “Gospel Song”, ou canção evangelística. Um gênero musical que tinha a função de sensibilizar os grandes auditórios. O paradigma teológico havia sido mudado, se antes o alvo das canções era Deus a partir do século dezenove o alvo da canção sacra passou a ser o homem.

            Ainda segundo Módulo, a prática litúrgica da música no Brasil tem sua origem no casal Robert e Sara Kalley e na missão Presbiteriana com Simonton. Os primeiros Hinários são formados por hinos traduzidos com essas composições típicas do século dezenove. A “Gospel Song” tornou-se o estilo mais cantado e conhecido por seu caráter evangelístico, passando a ser considerado um estilo litúrgico. Coube a Sara Kalley a criação do hinário protestante no Brasil, os Salmos e Hinos, base da hinologia da maioria das igrejas evangélicas do Brasil.

            Essa percepção a respeito da divisão funcional da música que passa a vigorar a partir do século dezenove, tem sérias consequências para a igreja. Podemos perceber uma grande ênfase no uso da tecnologia para a música que acaba interferindo na priorização de investimentos nas igrejas e até na arquitetura dos templos. A tentativa de popularização das músicas com mensagens evangelísticas também seguiu essa divisão e colocou a música erudita fora do cotidiano da igreja, relegando-a aos ambientes acadêmicos. Com o passar dos anos podemos perceber que esse afastamento serviu para o empobrecimento das músicas para o culto. A centralidade das Escrituras e a diversidade de temas, encontradas nas culturas luteranas e calvinistas passam a servir prioritariamente a evangelização. O reverberar desse movimento promove uma música pobre, seja na musicalidade, seja no conteúdo. Como está a música na sua igreja? Viva, uma arte rica e profunda ou monótona e descentralizada? A quem estamos tentando agradar?



[1] MÓDOLO, Parcival. Música Tripartida: Herança do Século Dezenove. FIDES REFORMATA 1/2 (1996) Disponível em: <http://cpaj.mackenzie.br/fidesreformata/visualizar.php?id=14 >. Acesso em: 05/11/16

[2] ROOKMAAKER, H. R. A arte não precisa de justificativa. Viçosa: Ultimato, 2010.





Rev.. Bruno Campos de Alcantara Santana é Bacharel em teologia: Seminário MTC - Latino Americano - MG (WEC Internacional); Seminário Presbiteriano JMC – SP; e Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP. Licenciado em Educação Física pela UEFS - BA. Mestrando em teologia (M.Div.), com área de concentração em Estudos Histórico-Teológicos, no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

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